sábado, 18 de outubro de 2014

As mãos que tricotam um futuro

Foto: Fernando Garcel
Estava perambulando pela Feira do Largo da Ordem quando uma moça por volta de 35 anos me chamou atenção em meio a uma multidão. O atendimento a seus clientes era um diferencial, com uma simpatia no olhar, um sorriso no rosto e um embaraço nos gestos. Aproximei-me. Ao me identificar, a timidez a tomou ao saber que a escolhi entre tantas pessoas. Durante nossas conversas, brevemente interrompidas entre uma venda e outra, Mirian Cristina dos Santos, que há 20 anos trabalha na produção de artesanatos, compartilhou um pouco de tudo: a vida, amigos, família, finanças.

A barraca em que vende seus produtos nos finais de semana é revezada com sua irmã gêmea idêntica, que também produz o material. 

Ganha-pão

Somente a venda de artesanato não é o suficiente para sustentá-la. As vendas caíram pela metade nos últimos cinco anos. Se antes faturava até R$700 por domingo, hoje raramente chega a R$350. Ela culpa o governo e as lojas popularmente conhecidas por seus produtos de R$1,99, no entanto, para Mirian, existe espaço para todo mundo. O domingo passa rápido. Ela se diverte enquanto tricota observando as pessoas que passam pela feira e, quando percebe, já está na hora de desarmar a barraca e ir para casa no início da tarde. 

As mãos

Devido à queda nas vendas, em 2011 Mirian abriu uma loja de produtos artesanais na Praça Rui Barbosa, que durante a semana é administrada pela mãe. Mostrou-me as mãos calejadas. Mirian me disse que aquilo não surgira das agulhas de crochê ou dos pincéis utilizados nas artes que cria em seus tapetes. Ela tem um terceiro emprego: trabalha lavando carros no centro de Curitiba de segunda a sexta em horário comercial. Segundo ela, o movimento é excelente, foi a forma que encontrou de ajudar o esposo nas finanças da casa e sente-se orgulhosa por isso.


Por Fernando Garcel
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