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Na Rua São Francisco a conheci. Ela corre, eu caminho. Vez ou outra corro também, que agora acabou a moleza. Nessa brincadeira, descobri músculos terríveis no meu corpo. E por terríveis quero dizer que começavam a doer já na primeira esquina. Dia desses, de tanto reclamar da dor e do cansaço, dona Laura, que de quando em quando afrouxa os passos e me acompanha, soltou essa:
- Tem senhoras de setenta com mais gás que tu.
Por certo era dela mesma que falava. Tinha também uns setenta anos. Seu corpo era pequeno e curvado, mas também era bastante altivo. A única coisa comprazente com a idade era seu cabelo: branquinho, de um tom suave. Simpática ela, com um senso de humor que beirava o perverso. Dona Laura, no entanto, tinha algo de diferente das outras senhoras que caminhavam pela São Francisco: ela gostava mesmo é de correr. E rápido. Todos por ali iam a passos de tartaruga; Decerto preferiam a tranquilidade. Mas não dona Laura, ela passava a mil por hora. Era até engraçado ver as veias grossas e roxas que saltavam de suas pernas finas e pálidas.
Algo do meu respeito por ela era essa vivacidade vinda do desconhecido; Para mim, era inevitável não olhá-la. Para ela, era uma alegria ser vista.
Dona Laura estava em sua terceira volta na quadra quando percebeu meu excesso de curiosidade. Ajeitou calmamente seu cabelo e me disse num sorriso de canto de boca:
- Que foi? Sou velha mas ainda estou viva.
Por Isabela Agostini
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