terça-feira, 18 de novembro de 2014

História de lutas e resistências numa Curitiba Negra

Foto: Adeline Bordin
Curitiba é hoje a capital com maior número de negros no Sul do país. A população negra chega a aproximadamente 25% do total, segundo dados do último IBGE, e mesmo assim a história de luta e resistência não se torna menor. O clube negro mais antigo do Paraná, a Sociedade Beneficente 13 de maio, vem batalhando para não ir a leilão desde 1997 devido a acúmulos de dividas referentes ao IPTU. Em 2012 a vereadora Professora Josete (PT) elaborou um projeto para que dívida fosse perdoada, porém o mesmo foi arquivado sem sequer ir à votação. 

A Sociedade 13 de maio está bem no Centro Histórico da cidade, na Rua Desembargador Clothário Portugal e vem lembrar a todos que nossa capital também carrega em seu processo de construção, a marca do trabalho de negros escravizados. O clube foi fundado em 1889, um ano após a abolição da escravidão do Brasil, mas existem registros anteriores de que já em 1888 o grupo liderado pelo negro alforriado, Vicente Moreira de Freitas, se movimentava para dar apoio aos negros libertos. “Se hoje a Sociedade não cumpre seu papel de forma integral é porque dependemos exclusivamente do trabalho de voluntários, e de pessoas que permanecem aqui por amor como eu”, diz Álvaro da Silva, presidente da Sociedade. 

Outro ponto que faz parte da memória da Cultura Negra na cidade fica no Largo da Ordem: a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, inaugurada em 1773, foi construída por e para os negros da cidade e atualmente é palco de uma das manifestações mais expressivas da comunidade negra de Curitiba, a lavação das escadarias da Igreja do Rosário, que ocorre desde 2009 em 20 de novembro, dia da Consciência Negra, comemorada em toda país nessa mesma data. O dia foi escolhido em homenagem à Zumbi do Palmares, que morreu em 20 de novembro de 1695. A festa que é organizada pelo Centro Cultural Humaitá passa a figurar no calendário oficial de festividades da cidade a partir deste ano. 

Se por um lado observamos avanços em relação ao resgate da cultura negra em nossa cidade, de outro ainda encontramos conflitos. Em 2013, um projeto do ex-vereador Clementino Tomaz Vieira (PMDB), que tornava a data de 20 novembro feriado municipal, aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa, foi barrado pela justiça a pedido da Associação Comercial do Paraná e pelo Sindicato da Construção Civil, a alegação é de que o feriado traria significantes perdas ao faturamento da cidade. A decisão tomada pelo Tribunal de Justiça do Paraná possuía caráter provisório, porém em 15 de setembro deste ano a ação foi julgada e mantida a decisão pelo não feriado. Segundo Saul Dorval da Silva, presidente do Conselho Municipal de Política Étnico Racial, somente um mandado de segurança, pedido através de uma liminar ao Supremo Tribunal de Justiça, pode garantir que o feriado aconteça. “Além de ferir um direito fundamental da comunidade negra a decisão do Tribunal de Justiça é motivo de vergonha para cidade. Este feriado faz parte de um resgate histórico de nosso povo”, afirma.

Por Adeline Bordin 
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